QUARESMA

QUARESMA

Por ocasião do início deste tempo tão importante de oração e penitência na vida da Igreja que é a Quaresma, quero recordar as palavras do Santo Padre Bento XVI durante a Celebração da Quarta-feira de Cinzas há alguns anos:

“Hoje, e com esta Celebração Eucarística, vamos iniciar um caminho de verdadeira conversão para enfrentar vitoriosamente com as armas da penitência o combate contra o espírito do mal. Ao receber neste dia as cinzas sobre a cabeça, ouve-se mais uma vez um claro convite à conversão que pode expressar-se numa fórmula dupla: “Convertei-vos e acreditai no Evangelho”, ou “Recorda-te que és pó e em pó te hás de tornar”.

“Convertei-vos a mim de todo o vosso coração com jejuns, com lágrimas, com gemidos”. Com estas palavras inicia a Primeira Leitura, do livro do profeta Joel  (2,12-18). O autor sagrado encorajar o povo eleito à conversão, isto é, a voltar com confiança filial ao Senhor dilacerando o seu coração e não as vestes. De fato, recorda o profeta, Ele “é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo” (2,13). Este convite do profeta também é válido para nós. Não hesitemos em reencontrar a amizade de Deus perdida com o pecado; encontrando o Senhor experimentamos a alegria do seu perdão.

São Paulo, na Segunda Leitura (2Cor 5,20-6,2), convida para nos deixarmos reconciliar com Deus em Cristo Jesus. “Aquele que não cometeu pecado – diz o apóstolo – Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus” (2 Cor 5,21). Causa um forte impacto espiritual a exortação que dirige aos cristãos de Corinto: “Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus”; e ainda: “Este é o tempo favorável, é este o dia da salvação” (5,20; 6,2).

No Evangelho (cf. Mt 6, 1-6.16-18), Jesus indica quais são os instrumentos úteis para realizar a autêntica renovação interior e comunitária: as obras de caridade (a esmola), a oração e a penitência (o jejum). São as três práticas fundamentais queridas também à tradição hebraica, porque contribuem para purificar o homem aos olhos de Deus Estes gestos exteriores, que devem ser realizados para agradar a Deus e não para obter a aprovação e o consenso dos homens, são por Ele aceitos se expressam a determinação do coração em servi-Lo com simplicidade e generosidade.

O jejum, ao qual a Igreja nos convida neste tempo forte, certamente não nasce de motivações de ordem física ou estética, mas brota da exigência que o homem tem de uma purificação interior que o desintoxique da poluição do pecado e do mal; que o  eduque para aquelas renúncias saudáveis que libertam o crente da escravidão do próprio eu; que o torne mais atento e disponível à escuta de Deus e ao serviço dos irmãos. Por esta razão, o jejum e as outras práticas quaresmais são consideradas pela tradição cristã “armas” espirituais para combater o mal, as paixões negativas e os vícios.

A este propósito, leiamos um breve comentário de São João Crisóstomo: “Como no findar do Inverno– escreve ele – volta a estação do Verão (no hemisfério norte) e o navegante arrasta para o mar a nave, o soldado limpa as armas e treina o cavalo para a luta, o agricultor lima a foice, o viandante revigorado prepara-se para a longa viagem e o atleta depõe as vestes e prepara-se para as competições; assim também nós, no início deste jejum, quase no regresso de uma Primavera espiritual forjamos as armas como os soldados, limamos a foice como os agricultores, e como timoneiros reorganizamos a nave do nosso espírito para enfrentar as ondas das paixões. Como viandantes retomamos a viagem rumo ao céu e como atletas preparamo-nos para a luta com o despojamento de tudo” (Homilias ao povo antioqueno, 3).

Dom Mauro Montagnoli

Bispo diocesano de Ilhéus