Levado pelo seu espírito reformador, Dom Jerônimo Tomé de Souza, arcebispo da Bahia, em 1913 conseguiu da Santa Sé a criação de três novas dioceses na Bahia: Ilhéus, Caetité e Barra. Das três dioceses criadas na Bahia, Ilhéus tornou-se a mais importante, em razão do grande surto econômico do sul do Estado, impulsionado pela cultura do cacau.
O CATOLICISMO NA REGIÃO CACAUEIRA
Até o final do Império a região do sul da Bahia teve pouco expressão, com uma economia fraca e pequena população. Também, de modo análogo, as expressões de fé católica não eram das mais significativas mas elas se alinhavam dentro do modelo do catolicismo popular luso-brasileiro.
“Silva Campos, na sua Crônica da Capitania de São Jorge dos Ilhéus, apresenta algumas dessas manifestações religiosas que ocorriam em Ilhéus desde meados do século XIX:
“No dia do Ano Bom, levantava-se um mastro com a bandeira de São Sebastião, defronte da respectiva igreja, anunciando os seus solenes festejos, a 20 do mês, quando, além das cerimônias religiosas, havia também “bandas de pessoas vestidas à mourisca e nacional(sic), com toques de caixas em uma e outra banda, seguindo-se à noite a representação de alguns entremezes, em uma barraca na praia, formada para esse fim, com o intuito de divertir-se a algumas famílias”.
Um cronista da época assinala que a festa e procissão de São Roque no mês de julho de 1908, em Itabuna, ocorrera na vila dentro da maior ordem, a despeito da enorme concorrência de povo.
A 14 de outubro, o delegado regional de Itabuna informava por telegrama ao governador do Estado:
“Terminaram ontem exercícios Santa Missão, havendo imponentíssima procissão, concorrência mais de dez mil pessoas, sem menor perturbação ordem pública, atestado pacificação desta vila. Missionários seguirão amanhã Ferradas, onde vão pregar Santa Missão. População satisfeitíssima”.
E mais adiante completa:
“Também às tradicionais e antiquíssimas festas do Divino Espírito Santo, em Olivença, concorria muita gente de Ilhéus que para ali ia em ruidosa folgança”.
O próprio arcebispo da Bahia esteve na região no início do século, conforme a seguinte nota: “Em visita pastoral ao sul da diocese, aportou a Ilhéus no dia 23 de fevereiro de 1903 o arcebispo D. Jerônimo Tomé da Silva, que foi carinhosamente recebido”.[1]
Mas nem tudo era assim pacífico. Em 1905 registra-se uma ração da juventude contra as manifestações do clero contrárias ao carnaval, conforme a seguinte nota telegráfica enviada de Ilhéus para o Jornal de Notícias de Salvador: “Apesar ferrenha oposição vigário Evaristo e missionários franciscanos, clubes Filhos do Oriente e Netos do Sol, realizaram noites sábado (de Aleluia) e domingo (de Páscoa) projetada passeatas depois terminados atos missão. Avultado número sócios e adeptos concorreu passeatas; muitas famílias iluminaram casas, aclamaram clubes, mau grado proibição frades. Estrepitosos vivas ao progresso, ao carnaval, à religião católica. Clubes mutuamente se vitoriaram, cumularam atenções. Mereceram elogios carros Netos do Sol, e os dois estandartes. Promete insólito brilhantismo carnaval 1906. Publicai. Diretorias”.[2]
[1] Silva Campos, Crônica da Capitania de São Jorge dos Ilhéus, Rio de Janeiro, conselhjo Federal de Cultura, 1981, p. 233s, 302-303
[2] AZZI, Riolando, A Sé primacial de Salvador, vol. II, Petrópolis, Vozes, 2001, p. 279s.